quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Da facilidade com que me rasgas.

Quero rasgar-me em mil pedaços, daqueles que se soltam ao vento e balançam num doce tormento…voar sem nexo, divididos os fragmentos da minha dor.
Amiúde, penso na serena leveza dos espalhados dilemas.
Suave valsa rodopiada nos poros do mundo…equilibrado o sentir, consigo ver com clareza.
Lá do alto quebram-se barreiras e fronteiras…não há sítio por onde não possa andar, nem pedra que não possa pisar.
No algodão feito nuvem poiso os pedaços de mim que se descalçam. Gosto tanto de andar descalça…sentir a irregular textura do mundo na ponta dos meus pés…gosto que se me agarrem à pele todas as pequenas partículas que o vento recicla em harmoniosas ou, ao invés, tempestivas danças.
Engana-se quem julga que todo o chão é igual. Maravilhosa sensação a de pisar a fresca relva que nos amortiza o sonhar…ou o suave tapete que pinta de açúcar o nosso quarto…a irrequieta areia que polvilha o mar…e, confesso, perco-me de amores pela beleza e leveza singela da pura madeira.
Perdida, encontro-me. Solta, agarro-me. Vazia, preencho-me. Sozinha, chego-me.
Lambidas as ardentes e valentes feridas, pisco os olhos e permito-me acreditar no arrepio frio que me percorre a pele depois desta viagem.
A dor persiste. A serenidade abandona-me as articulações que perdida a força se resignam ao definhar. Queda fico, sem lamento que me saia da pele. Forçadas as entranhas do mundo, murmúrios chorados do meu desprovido ser, aquele que te apeteceu dilacerar. E eu, sem réstia de energia, não me consigo rasgar.
Quero rasgar-me em mil pedaços…Se eu conseguir e me transformar em pó, promete que me agarras numa mão fechada, e no alto do monte mais alto que encontrares, em suave mas inspirado sopro, me soltas ao vento…me deixas ir…livre de ti…agora já sabes…no teu desejo serei feliz.

Soundtrack: INXS - Never tear us apart

Modelo: Gicas

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

(NON) rocky mood

Deambulo pela praia, o frio da areia enregela-me os pés enquanto os seus grãos insistem em permanecer no meio dos meus dedos. O mar vai e volta numa cadência sonolenta que me torpe também os pensamentos. Conduzido, os meus pés fazem-me mecanicamente chegar àquele lugar familiar, levado até àquela rocha moldada por anos de fúrias, choro, gritos... anos em que aquela rocha fora a única testemunha dos meus desgostos e tristezas.

Sinto o vento frio a cortar-me a cara, numa tentativa vã de me aquecer, tiro as luvas e pego no copo do café, aquele fumegar hipnótico pára-me agradavelmente o cérebro.

Sinto algo diferente, aquela rocha, outrora moldada na perfeição, estava estranhamente desconfortável, não me sinto bem naquele lugar de tristeza e solidão, não consigo estar ali, não consigo... preciso de sair dali, preciso de deixar tudo aquilo para trás. Num último olhar observo as marcas da minha fase de solidão, não na rocha...

mas em mim.

Do brilhante desigual dos dias.

Dei por mim a pensar nos dias, essa amálgama de segundos perdidos, sentidos, incontidos e vividos.
Há-os de todas as maneiras e feitios.
E o mais impressionante é que nenhum, nem um, é igual ao que já tenha sido.
Penso num pantone ávido de cor, com aquele sabor especial do novo e inesperado.
Cada vez que se abre uma página, afigura-se-nos uma infinita maré de oportunidades que nos preenchem o olho. Uma vastidão de escolha na palma da mão e, ironicamente, a verdade é que fazem mais sentido juntas.
São assim os dias.
Há dias claros, e dias escuros. Há dias cheios e dias em branco. Há dias alegres e dias cinzentos.
Há uns que se ouvem e outros que se querem calar. Há os compridos, e aqueles que são verdadeiramente insuficientes. Há os renovados, e os de sempre. Há os que têm uma teatral música de fundo, e aqueles em que o silêncio é Rei.
Gosto especialmente do dia de hoje.
Não que o de ontem não tenha sido bom, ou que o de amanhã não prometa…mas o de hoje…bem, o de hoje tem aquela magia única que antecede a imensidão de possibilidades que o mundo nos concede. Hoje posso ser quem quiser. Posso dar-me ao luxo de fazer o que quiser, sem medo de errar. Porque hoje, ainda não aprendi a ter medo. Hoje ainda não me arrependi de nada. É um dia novo, uma folha em branco onde posso largar a minha inspiração.
E hoje, sinto-me inspirada. Olhei para o lado e vi-te. Com aquele sorriso dos dias sim.
Antecipado congelar de um sonho que me diz, imediatamente, que hoje vai ser um bom dia.
Hoje não é como ontem. Hoje estás aqui. E isso, nunca será igual.


Soundtrack: Michael Buble - Feeling good

Edição de fotografia: Paulo