terça-feira, 31 de março de 2009

Amargura

Mexo-me erraticamente pela cama, ainda não penso, o meu cerebro ainda não começou a perceber quem é, ou que dia é, mas já o sinto, o sabor amargo na boca, a revolta do estômago, aquele mal estar permanente que não me deixa ser feliz.

Dou mais uma volta na cama, puxando vigorosamente os cobertores para uma posição mais confortável enquanto me forço a pensar noutra coisa, a não pensar, a parar, mas não consigo, é impossível, consegues deixar-me num tal mal estar, consegues colocar-me à porta de um abismo sem fim com uma vontade incontrolavel de me lançar para o silencio profundo.

De um salto, levanto-me energético, como que a tentar sacudir aquele torpor que me tolhe o pensamento e o corpo, sem prestar atenção ligo a televisão e o radio na esperança que que ambos façam ruído suficiente para calar o meu cérebro e dar sossego ao meu estômago.

Não sei como melhorar, não sei como me elevar a esse teu estatuto de sábio, de entidade superior conhecedora dos segredos do mundo. Eu não sou bom a esplanar sentimentos, não sei como fazer para te explicar o inexplicável, para te mostrar as medições e as lógicas de algo que simplesmente não tem lógica, nem é para ter lógica.

Não sei ser melhor, sei apenas ser o que sou...

seja lá o que isso fôr...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Thru the foggy glass

Esfrego os olhos, cansados de tanto olhar para um monitor cheio de trabalho, estico os dedos das mãos e dos pés na esperança que este stress , esta pressão continua se escoe do corpo por entre eles.

Levanto-me, as costas gritam que estou a tornar-me num work-aholic inveterado, lá fora, o sol lentamente vai descansar, sei que também deveria fazê-lo, mas não consigo, cada vez que paro, cada vez que o meu cérebro não está a ser usado na sua capacidade máxima, tu voltas, a cada milésimo de segundo, tu voltas, a cada intervalo entre dois pensamentos, tu voltas...

Do alto da minha sala olho as pessoas na rua, nas suas vidinhas, com os seus problemas, egoísticamente ignoro-os e vou vendo a tua cara em cada delas. Nos meus pensamentos vejo-te cabisbaixa, triste, sem aquela energia contagiante que me levava a fazer coisas que muitas vezes nem sequer me apetecia, que me levava a fazer coisas que todo o meu bom senso gritava "pára! És doido! não faças isso.", essa alegria que me levantava o espírito em dias que só me apetecia ficar fechado em casa longe das pessoas, longe de tudo...

Sei-me hoje longe de ti, tal qual estas pessoas que observo, separadas de mim por um vidro intransponível, um vidro que não tenho força suficiente para quebrar...

Sei o mal que me farias perto de ti, mas quero que saibas que é uma ínfima parte da dor de me saber longe de ti...

sexta-feira, 13 de março de 2009

A espera que desespera.


Chegaste.
Estava à tua espera desde sempre. Ou pelo menos assim parece.
Todas as expectativas e ansiedades de que padeci estão agora longe, guardadas num qualquer baú de medos que só se solta do sótão quando ainda não temos escadas suficientes para lá chegar.
Que tolo desassossego e infundadas aflições.
Mas eu não sabia. Não podia saber.
Durante todo o tempo em que esperei por ti, sem saber se virias, sofri de uma coisa que se chama angústia. Doença grave que nos ensombra o ser.
Pareceu-me uma vida inteira. E olha que não sei sequer o que isso é.
Confesso que a certa altura quase desisti de te esperar. Não acreditava que viesses.
Era algo que eu queria tanto, com tanto entusiasmo, que me parecia desmedido acontecer. Seria bom demais para ser verdade, dizem uns. Utópico, dizem outros.
Megalómana vontade que me toldou a sensatez irracional do acreditar piamente.
Todos os que me querem bem me diziam que virias, que só era preciso calma.
Calma, calma, calma. Como podia eu estar calma?! A agitação roubou-me a calma e levou-a para longe. Aquele longe onde talvez tivesses estado. Enquanto aqui não estavas, quero eu dizer.
E agora também não interessa. Podes ter estado do outro lado do mundo. Noutro mundo quiçá. Talvez até apenas na minha fértil imaginação. Mas agora, dê lá por onde der, estás aqui. Chegaste.
Posso finalmente olhar para ti com sossego.
Preciso de algum tempo para te decorar as feições. Sei que já as conhecia, mas guardadas naquele baú que se soltou do sótão, nem tinha dado por isso.
E depois de tanta espera, acredita que tudo o que eu quero agora é abraçar-te.

Soundtrack: Xutos & Pontapés – Longa se torna a espera

quinta-feira, 5 de março de 2009

Nirvana sem paz

Comecei a dactilografar, não necessariamente a escrever, apenas a bater teclas, a mexer os dedos na esperança que deles surgisse algo. O som quase metálico e inebriante das teclas deixaram-me numa espécie de transe, num estranho nirvana frenético onde não penso, onde procuro no meio deste frenesim de palavras aleatórias uma verdade superior, uma verdade pura, uma que não tenha sido já moldada para encaixar nas nossas pré-formatações inatas, sim, uma verdade, uma certeza daquelas em que nos apoiamos para fazer uma escolha, um chão de onde saltamos confiantes para um abismo com a simples certeza do ponto de partida, não interessa o destino, não interessa a forma como vamos lá chegar, naquele momento, a única coisa que interessa é existir aquele ponto zero, aquele sinal que nos indica que temos que virar à esquerda. Provavelmente logo depois ficamos novamente perdidos, mas não é importante, porque naquele momento, naquele segundo tivemos certeza e só isso importa.

Releio o que escrevo e perante este paradigma sorrio, acho realmente piada ao que escrevi, eu, um arauto, um apóstolo dos cépticos, do que não aceitam certezas absolutas... sorrio...

"só os tolos têm a certeza", pois bem...

por vezes adoro ser um mero tolo.

Soundtrack - Miles Davis - Kind of blue
http://www.youtube.com/watch?v=cPq47C3WwRQ&NR=1

Will you?

Perfeitas indecisões que te antecedem os passos.
Ao longe oiço-te planar, com a suavidade de um pássaro. Nem o vento se mexe, com medo de te baralhar a rota.
Chegas. Ou poisas.
Estou agitada. Por dentro sinto-me tremer. Sem frio ou calor que o explique.
Neste preciso momento a minha barriga serve de despretensioso carrossel para todas as borboletas que a tua vinda soltou. Bater de asas tão ténue e ao mesmo tempo tão frenético.
Luzes cintilantes cobrem o ar. Não sabia que podia ver estrelas à luz do sol.
Descobres-me os olhos e rapidamente os enches com a tua doçura. Derreto.
Em ponto de açúcar rendo-me de maneira mais que evidente.
E então, sabendo-me à tua mercê, ofereces-me um sonho.
E eu, com a cabeça no ar e sorriso mimado de menina, aceito-o, e agarro-te com força, qual balão atado num cordel para que não te leve o vento.
Já falei com ele. Se te levar, leva-me também.

Soundtrack: Amy Winehouse – Will you still love me tomorrow?